15 setembro 2008

um livro sobre chica

chica da silva foi uma escrava que se fez rainha. mulata dotada de grande beleza e sedução, construiu o seu palácio usando, além destas suas grandes armas, sua notável inteligência. para igreja uma concubina, para a história uma celebridade. escrava alforriada pelo seu dom de mandar nos homens. um mito que se fez mulher, que se fez história. chica, a negra.

chicabom é o clássico sorvete de chocolate. um sabor exclusivo que transformou sua marca em uma expressão usada até por quem nunca provou essa delícia. chicabom define o que é saboroso e negro. virou apelido, ingrediente de sobremesas e drinks que levaram o seu nome. chicabom, o gostoso.

chica, a negra gostosa. apesar da sua pelagem tão escura, veio como uma luz para a nossa vida. pequena com 55 dias de vida, chegou aos nossos braços. a energia que nos faz perder a hora, e que traz grandes momentos de alegria, risadas e emoção. chica, nossa filha.


09 setembro 2008

um livro sobre indecisão

considero uma geminiana a autora mais qualificada para escrever sobre indecisão, dilemas e afins. tanto por ser mulher, quanto por seu (ou meu) signo astrológico. nunca diga para uma geminiana tomar uma decisão imediata, principalmente se isso custar a sua integridade física ou mental. como no trânsito, né paolo?

- pego a faixa de cima ou de baixo, amor? rápido!

- sei lá! a de baixo.

- essa faixa de baixo só tem ônibus, não anda, que saco.

- e quem mandou vir por essa faixa?

- você!

- então por que me perguntou e não pegou a de cima, se é você que está no volante?

- ...

acho que tenho dificuldade para decidir as coisas não por medo de fazer a escolha errada, mas por valorizar demais cada momento. valorizo tanto a viagem em comemoração aos nossos dois anos juntos que não sei qual cd escolher para tocar na estrada. entende a questão? não é apenas contar os prós e os contras, ver de que lado a balança pesa mais, e escolher. é muito mais complexo que isso. é uma soma de sentimentos que variam de acordo com o momento. alguns dias é tão fácil acordar, vestir a roupa e sair de casa. outros dias o armário está de tpm e não me oferece nada que fique bem em mim. as escolhas também são dificultadas pela quantidade de opções disponíveis. alguém não fica em dúvida na hora de escolher os ingredientes do Spoleto? é bem por ai. mas para explicar o sentimento de dúvida constante aos que não são geminianos e nem mulheres, imagine você tentar escolher calça ou saia, como quem escolhe o título do livro da sua vida. é só um pouco mais complicado do que isso. ou não. não sei, me bateu uma dúvida.

03 setembro 2008

um livro sobre respiração

a respiração da ioga é diferente da respiração do pilates
para jogar bola na praia você respira diferente de jogar no campo
a respiração do sexo é diferente de quando se faz amor
respirar com raiva é diferente de respirar aliviado
a respiração não é só inspirar e expirar
um executivo respira diferente de um médico
não respirar durante o sono é ruim
perder o fôlego por um amor é ótimo
a força de um espirro não é maior que a de um suspiro apaixonado
a respiração da fofoca é diferente da respiração de um segredo
não conseguir respirar enquanto chora é diferente de perder a respiração de tanto rir
respiração é ritmo e compasso
é um adianto e um atraso
respiração é uma forma de meditar
para pensar, tem que saber respirar

27 agosto 2008

um livro sobre lembranças

comprou uma lembrancinha da sua última viagem? e aquela foto pra gente lembrar desse momento depois?

tudo bem, essas lembranças até ajudam na hora de recordar momentos, mas uma foto nunca vai captar a energia da lua minguante nascendo amarela na praia de japaratinga à meia noite. um vídeo nunca vai mostrar a alegria de descobrir uma praia paradisíaca indicada por uma velhinha missionária. pra tirar algumas fotos a gente sorri. mas na verdade a primeira expressão pode ter sido de cair o queixo. vemos fotos dos aniversários de crianças, onde cada ano parece uma nova fase, mas viver essa fase é que fez a diferença.

fotos, vídeos, histórias. tudo faz parte das lembranças, mas nada substitui a experiência, a vivência, o momento. não se contente em ouvir causos e ver fotos. visite lugares, viaje.

janaína, figuraça que conheci, disse o que inspirou esse post. tem lugar melhor pra guardar lembranças do que na memória? não perde, não rasga e não estraga. e é isso ai.

25 agosto 2008

um livro sobre amor

que o coração dispara, as mãos ficam úmidas, a cabeça fica aérea, e qualquer coisa é motivo pra sorrir, isso a gente já sabe. mas o amor na rotina é muito mais do que isso. é dormir e acordar todos os dias ao lado da pessoa, e querer achar um motivo pra viajar à sós. é cozinhar pra comemorar, e comer fora quando não dá tempo de dividir a cozinha. o amor não tem que sobreviver à rotina, o cotidiano é que deve resistir para o amor não tomar conta das obrigações, dos horários, dos compromissos. o amor de verdade se constrói no dia-a-dia, no momento antes da depilação, antes de escovar os dentes, antes de escolher a roupa mais bonita pra sair, no cheiro de cebola antes do jantar à luz de velas. o amor não é apenas um sentimento, é um way of life. nenhum livro que promete explicar o amor é verdadeiro. não tem conceito, nenhum grande filósofo conseguiu definir, nenhuma cartilha escolar ensina, o dicionário tenta explicar de várias formas o que o homem nunca conseguiu entender. o amor de verdade não é do fundo do peito, ou do coração. é do corpo inteiro, da alma inteira. feliz é aquele que ama e é amado. já disse antônio carlos jobim: fundamental é mesmo o amor. é impossível ser feliz sozinho.

dedicado ao meu grande amor, por me fazer viver o amor todos os dias, o dia inteiro.

20 agosto 2008

um livro sobre as amizades

algumas figuras que passaram (ou ainda passam) pela minha vida dariam um livro completo.

alguns, um livro de comédia:
cena: minha irmã aprendendo a escrever, liga para minha mãe, que estava em reunião particular com seu chefe, e pergunta:
- mãe, como se escreve CU?
minha mãe sem saber o que dizer, de frente para o seu superior, pergunta:
- pra quê você quer saber minha filha?
- é que eu tô fazendo a lista de compras mãe, ai quero escrever pão CUadrado.
minha mãe respira aliviada.
- ahhh sim. escreve Q U A.
- tá bom mãe, brigada.
então minha mãe chega em casa e está a lista de compras:
leite
bicoito
pão quadrado
pêra
maraQUAjá

inteligência lógica invejável da minha irmã.

outros, dariam um livro de humor negro:
cena: num lugar qualquer uma senhora simpática se aproxima de júnior, meu ilustre e careca amigo, e inicia o diálogo:
- careca né? passou no vestibular querido?
- é quimioterapia
- parabéns! bem concorrido esse curso né?
- ...
foi quimio mesmo. ainda bem que foi e não volta mais, né ju?

alguns escreveriam um livro de contos de fadas. onde só no final se consertam todas as merdas da história, e todos vivem felizes para sempre.

algumas pessoas são um verdadeiro livro de charadas, que você nunca sabe quando estão brincando, falando sério ou mentindo.

algumas são apenas páginas viradas do rascunho do que um dia poderia se tornar um livro. longe de ser um best seller.

agora, algumas pessoas eu gostaria de ter sempre como meu livro de cabeceira. são aquelas que trazem histórias felizes, tristes, engraçadas, mentirosas, mas que sempre é bom estar por perto.

18 agosto 2008

um livro sobre formatura

eu escreveria um livro sobre as festas da faculdade. na verdade, acho que cada festa daria um livro inteiro, e eu ainda pouparia os detalhes sórdidos. mas nada como a festa de formatura para rechear o livro com um conteúdo especial. além dos litros de cachaça, vodka e wisky que banharam cada página, a saudade também vai do começo ao fim dos capítulos. o tamanho dos sorrisos nos rostos dos formandos e convidados era tão grande quanto o barulho das buzinas e apitos tradicionais das festas de conclusão do curso.

- Vamo lamber calçada galeraaa!!

e todos enlouqueciam sob os flashes constantes. é o momento em que a trilha sonora vira axé, funk, dança do quadrado, e todos descem do salto - literalmente - e batem bundinha, requebram até o chão, e pulam cantando aquelas músicas antigas que a gente pensa: como eu sei a letra dessa música se a última vez que eu ouvi foi na viagem de 1º ano do colégio? e a essa altura era já era considerada velha. mas são os hinos da nossa geração, que ninguém gosta mas todo mundo dança e canta.

"e balança coqueiro, cai coco, ôô. sacode sacode e vem pra cá"
"ela tá dançando e o pimpolho tá de olho, cuidado com a cabeça do pimpolho"

acho que essas músicas são as escaladas pra playlist desses eventos que simbolizam o final de alguma coisa pq só as músicas já são o fim. tudo bem, no próximo post escrevo um trocadilho melhor.

15 agosto 2008

um livro sobre trabalho

vejo esses anúncios de trainees em multinacionais, onde os jovens disputam uma vaga promissora em uma grade empresa. o departamento de atuação e as obrigações do trainee são o que menos importa. o que vale mesmo é entrar no quadro da multinacional e crescer dentro da empresa. então parei pra pensar que nestes casos não é a pessoa que escolhe o trabalho que vai desenvolver, ou a carreira que vai seguir. é o trabalho escolhe a pessoa certa para o seu perfil de atividades. e assim as pessoas vão ganhando dinheiro, e mais dinheiro. sim, essas empresas dão muito dinheiro. para algumas pessoas é exatamente o que elas sempre sonharam em fazer. fazer o quê? qualquer coisa para ser bem sucedido em uma multinacional.

acho que eu fiz o caminho inverso. escolhi o que eu queria fazer da vida, então escolhi meu curso superior, e escolhi a área que quis trabalhar. e fui conquistando os meus desejos, mas sem muito dinheiro. com o tempo vamos ganhando um reconhecimento profissional, mas ainda assim sem muito dinheiro. hoje eu faço o que gosto todos os dias, trabalho com prazer, e sou feliz por ter escolhido isso para trabalhar. mas não tenho rios de dinheiro.

bem, para os indecisos fica o dilema. ou você escolhe o seu trabalho, é feliz (ou não) e pobre. ou você deixa o seu trabalho te escolher, é feliz (ou não) e rico.

e ainda assim eu ainda acho que fiz a escolha certa.. estranho não?